Restam o homem e seu entorno, reduzido a uma arena circense. Com grafite, tinta acrílica e duratex, ele cria os trabalhos da série “O espetáculo não pode parar”. Atores, equilibristas, domadores, mágicos, trapezistas, palhaços são os elementos com que constrói um silencioso, metafórico e pungente discurso sobre a condição humana. Com sua arte, põe em evidência um homem contraditório, capaz de construir e destruir, que ora é caça e ora caçador, mas sempre dominado por uma solidão esmagadora. Aproximando-se cada vez mais do homem, Soncini passa a dissecá-lo num restrito cenário teatral. Em certos casos fica a sensação de enjaulamento, tão freqüente na obra de Francis Bacon, a cuja família espiritual Soncini se orgulha de pertencer. Ambos expõem o indivíduo a um exame penetrante e a uma situação de remoção de todas as suas defesas. Nestes trabalhos o espaço é limitado, a atmosfera rarefeita e o ambiente glacial. As figuras estão como que geladas, petrificadas, como seres que tiveram suas vidas interrompidas instantaneamente por uma força superior e implacável, capaz de captar seus últimos movimentos, conservados como rastros no espaço. Esbranquiçadas, estas figuras estão em sua maioria sentadas, encostadas, ou deitadas. Elas constituem rico material de uma arqueologia particular, que documenta a percepção da vida experimentada naquela altura e sua reflexão sobre ela. Refletem um mundo sofrido, solitário, profundamente humano, que incorpora o mito e a magia e não exclui a dimensão poética. São desta série os trabalhos de sua individual na Galeria Paulo Prado, em 82. De lá para cá, Soncini evolui bastante. Ele passa a interessar-se mais pela matéria pictórica. Troca o duratex pela tela e usa cada vez menos o grafite. A tinta continua a ser a acrílica, que lhe permite a prática da veladura, muito freqüente em seu trabalho. Além do novo suporte e da ausência do grafite, a obra atual de Soncini é invadida por todas as cores da escala cromática. Seu trabalho perde o sentido de obra gráfica, transformando-se em pintura de primeira qualidade. Uma pintura às vezes de tons escuros, sutis, em que cada detalhe é importante e outras profusamente coloridas. O tema permanece o mesmo. O homem é uma presença quase obsessiva em sua obra. As figuras humanas – a maioria das quais feminina – aparecem quase sempre de costas, isoladas, com uma torção de cabeça. Os detalhes são sacrificados em benefício do todo. Os rostos são apenas esboçados, pois Soncini não pinta um homem, mas o homem. Às vezes aparecem casais. Nestes trabalhos, denominados “Evoluções”, o jogo amoroso é ambíguo e o erotismo inexistente. Em casos raros aparece um cachorro, de expressão lancinante. Em suas pinturas a relação do homem com o ambiente tem muito de insólito, como a figura de um homem lavando as mãos diante de um espelho que não reflete as imagens: um espelho negro. Soncini trabalha freqüentemente no campo do absurdo, do inexplicável, do antagônico. Mas não temos dúvida que sua arte – de uma plasticidade requintada - reivindica exatamente o contrário: a harmonia, a solidariedade, a aproximação.
Enock Sacramento - 1985 Décio Soncini Currículo artístico Antonio Zago - Revista "Isto É" - abr./1982 Alberto Beutemüller - Revista Visão/abr. de 1982 Olívio Tavares de Araújo - Exposição - 1988 / apresentação Radah Abramo - Revista "Isto É" - março/1989 Walter de Queiroz Guerreiro - Exposição - 1993 / Apresentação Artigo publicado no jornal "A Noticia" em outubro de 2003 Walter Queiroz Guerreiro - Inédito - Maio/2008 Raul Forbes - Apresentação da exposição "Paisagens" - setembro/2011 Lúcia Chaves - "Os infinitos cantos do ateliê" - maio/2014 Walter de Queiroz Guerreiro - "Passagens" - agosto/2014 Enock Sacramento - 4.2 Gonzalez e Soncini - 2019 Walter de Queiroz Guerreiro - Luz e sombras - 2021 Walter de Queiroz Guerreiro - "Um dia um olhar..." - 2024
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