FIGURAS E DOR

Décio Soncini, pinturas. Galeria Paulo Prado, São Paulo.

  O Grupo Guaianazes assemelha-se ao histórico Grupo Santa Helena por muitas razões. Entre elas, o fato de não ser um grupo na exata acepção da palavra, mas uma reunião de amigos a debater seus problemas específicos. Assim como a freqüência das visitas de Volpi ao ateliê de Rebolo, no palacete Santa Helena, acarretou-lhe o rótulo de pertencer ao grupo, Décio Soncini terminou por incluir-se no Grupo Guaianazes.

  A pintura de Soncini ainda não procura a luz: gráfico que equilibra sua obra com o parcimonioso uso de cores, ele ressalta é o ritmo da pincelada, espécie de bisturi sempre à procura de dissecar seu tema predileto, a humanidade – essa mesma humanidade que confunde crescimento com desenvolvimento, progresso com civilização, terminando por robotizar-se numa rotina odiosa e consumista. Soncini tenta fazer sua tela exalar solidão e solidariedade. A primeira, por excesso; a segunda, por ausência.

  Há clima de Francis Bacon nas deformações das figuras, mas apenas semelhança de enfoque. Soncini está preocupado com a realidade em si. O projeto do pintor é ambicioso. Em suas telas há sempre dois tempos: um tempo de estar e um tempo de ser. E ele os trabalha como um paradoxo: o tempo de estar evidencia-se em suas figuras doloridas; o tempo de ser inexiste fisicamente nas telas, é o que deveria ter sido. O absurdo complementa o clima de sua pintura-gráfica: o tempo congela os personagens; o homem fica só.                                                                                                                        

ALBERTO BEUTMÜLLER

Revista Visão – 19/04/1982